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Brasil
24 de diciembre de 2009
Ameaças e intimidações a jornalistas nos grotões do Brasil
Clarinha Glock, URR-Brasil


Durante as campanhas das eleições para prefeitos e vereadores, entre agosto e setembro de 2008, os repórteres Hudson Corrêa, 35 anos, e Eduardo Scolese, 34 anos, do jornal Folha de S.Paulo, resolveram documentar o pleito de um ponto de vista diferente. Escolheram 30 pequenas cidades do interior do interior do Brasil, as mais isoladas ou que se destacavam por apresentarem altos índices de precariedade: o município líder em desmatamento, o que tinha o pior índice de educação básica, aquele com maior percentual de pessoas sem energia elétrica, ou com mais denúncias de trabalho escravo, de políticos envolvidos em escândalos de corrupção, e assim por diante. Durante o percurso, receberam ameaças e intimidações geradas pela desconfiança e pela tradição ainda vigente do “coronelismo” – sistema antigo de poder em que uma pessoa detém o controle político sobre a região. Os resultados desta viagem estão no livro Eleições na Estrada (editora Publifolha, São Paulo), recém lançado.

Em 34 dias de viagem, Scolese cobriu as campanhas eleitorais no Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Piauí, Bahia e Minas Gerais. Corrêa saiu de Teresina, no Piauí, e seguiu para o interior do Maranhão, depois Pará, Tocantins e Mato Grosso. O jornal alugou um carro para cada um, que foi identificado com o logotipo da Folha. Os próprios jornalistas dirigiam. Levaram na bagagem um computador portátil, uma máquina fotográfica, um gravador e blocos de anotações.

Como segurança, andaram sempre com um colete escrito “repórter”, com o bloco com o logotipo do jornal, além de três crachás de identificação – inclusive o de setoristas do Congresso Nacional. Fizeram contato antes com entidades de cada região: Pastoral da Terra, assessoria de governos, sindicatos, o que os ajudou a planejar a logística. Era preciso cumprir à risca o cronograma de viagem, ficando pouco tempo em cada cidade, e todos os dias enviavam o artigo para a redação, que publicava alternadamente a reportagem de um e de outro.

Tanto Corrêa como Scolese trabalham atualmente na sucursal de Brasília, mas seus currículos incluem reportagens em outros cantos do país, descrevendo o chamado “Brasil real”: de conflitos indígenas, sociais, educacionais. Mesmo com essa experiência prévia, às vezes se surpreendiam com o que encontravam. “Fomos a lugares onde nem mesmo a imprensa regional chega”, conta Scolese. “Em alguns deles, havia um clima acirradíssimo, inclusive com briga física”, observa. No início, as pessoas duvidavam de suas intenções e de que eram mesmo repórteres de um grande veículo de comunicação como a Folha. Isso porque em muitos Estados ainda predominam os jornais comandados por políticos, que só publicam o que lhes interessa, e as rádios têm maior penetração.

“Eu não dava muita chance para ameaças”, diz Scolese. Mas aconteceu em Mirante, zona rural na Bahia. Um candidato começou a gritar que a Folha de S.Paulo estava a serviço do opositor, e colocou o dedo na cara do jornalista. “Tem que ter sangue frio, não adianta insistir”, relata Scolese. “Não retruquei, nem reagi, quem perderia seria eu”, afirma. Pouco tempo depois, encontrou o mesmo político nos corredores do Congresso Nacional, afinal tinha sido eleito. Scolese foi atrás dele, lembrou do evento. “Ele disse que foi um mal-entendido”, afirma. Muitos candidatos relataram que nunca haviam sido procurados antes para dar entrevistas para um jornal da capital.

“Nesses locais do interior as pessoas não têm noção do papel da imprensa, em geral existem somente jornais pequenos”, concorda Corrêa. “Achavam que estávamos ali a serviço dos adversários ou para investigá-los”. Em Confresa, no Mato Grosso, Corrêa buscou o candidato a prefeito Luiz Carlos Machado, conhecido como Luiz Bang, acusado, entre outras coisas, de aliciar trabalhadores para o regime de escravidão. O candidato chegou a ser preso em uma operação da Polícia Federal e foi citado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pistolagem. Seu slogan de campanha era “Bang neles”.

A Corrêa, Bang argumentou que estava visitando um amigo na fazenda em que houve a operação da polícia para libertar os trabalhadores escravos, e que não tinha nada a ver com o crime. O repórter perguntou então se não seria leviandade da Polícia Federal sua prisão. Ao que Bang respondeu: “Às vezes, você pode estar na hora errada no lugar errado”. O tom de voz e a forma como foi colocado fizeram Corrêa ter a certeza de que se tratava de uma ameaça velada. No caminho de volta da entrevista, cruzou com um motoqueiro parado na estrada, carregando o que acredita ser uma arma. Tão logo passou por ele, o motoqueiro fez a volta e começou a seguir seu carro. “Senti que a região era uma terra sem lei, sem presença do Estado, e por pouco não me acidentei”, conta.

No município mais pobre da região litorânea brasileira, em Araioses, no Maranhão, Corrêa falou com o prefeito José Cardoso do Nascimento, conhecido como Zé Tude, que havia sido preso em uma outra operação da Polícia Federal contra a corrupção. Depois de solto, candidatou-se novamente. A entrevista foi concedida em um quarto de um casarão, cercado por seguranças. O jornalista sentiu-se intimidado.

Não foi muito diferente em Centro do Guilherme. Localizada no interior do Maranhão, a cidade tem menos de 10 mil habitantes e um dos menores índices de desenvolvimento humano do país. A prefeita concedeu entrevista a Corrêa, meio desconfiada. Minutos depois, perguntou: “Quanto vai me custar?”. E explicou: “Aqui todo mundo pede dinheiro, bicicleta, geladeira, em troca de votos”.

A situação ficou mais perigosa em Tailândia, no Pará, onde em 2008 uma grande operação da Polícia Federal comprovou o desmatamento, gerando um confronto com a população e com os donos de terras. Corrêa foi entrevistar o prefeito em cuja área haviam sido apreendidas cargas ilegais de madeira. Quando parou seu carro na estrada para fazer fotos das madeireiras, um grupo de uma caminhonete que o seguia tentou impedi-lo. Logo depois, em sua conversa com o prefeito e com o secretário de meio ambiente, ambos disseram que sabiam exatamente onde ele tinha estado. “As estradas do interior do Pará são ermas, de difícil acesso, não há policiamento”, descreve Corrêa. Em um cenário assim é muito fácil ser alvo.



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