O repórter Amaury Ribeiro Jr., 44 anos, foi ferido com um tiro por volta das 19h do dia 19 de setembro, quando fazia uma reportagem para o jornal Correio Braziliense sobre o tráfico de drogas na Cidade Ocidental, em Goiás, a 48 km de Brasília. O jornalista estava em um bar, esperando pelo jantar, quando um rapaz entrou e disparou três vezes – um tiro atingiu Ribeiro, os outros a parede. Uma testemunha ouviu o jovem dizer primeiro que era um assalto e imediatamente apontar a arma para o jornalista. Ribeiro foi levado ao Hospital Regional do Gama, onde foi operado e passa bem. No mesmo dia, um suspeito foi detido pela polícia.

A direção do jornal não tem dúvida de que o crime foi uma tentativa de calar o repórter. Há duas semanas o Correio Braziliense publica a série de reportagens “Tráfico, Extermínio e Medo” sobre os assassinatos e o tráfico de drogas naquela região, conhecida como Entorno e considerada uma das mais violentas do Brasil. As investigações feitas por Ribeiro constataram que mais de 150 jovens de até 26 anos de idade morreram nos últimos seis meses no Entorno. Destes, cerca de 40 eram adolescentes entre 13 e 18 anos.

No editorial da edição do dia 20 de setembro, o jornal Correio Braziliense publicou: “O premiado repórter Amaury Ribeiro Jr. seguiu o rastro da morte de duas adolescentes em Valparaíso (GO) e descobriu que ali se havia instalado verdadeiro império do crime organizado. A resposta deste jornal ao tiro que pôs o profissional momentaneamente fora de ação quando exercia seu ofício será a multiplicação do trabalho que denuncia a corrupção de menores por quadrilhas que não titubeiam em usá-los na luta contra adversários.” O jornal alerta ainda que a região do Entorno pode ficar encurralada pelo crime assim como o Rio de Janeiro se o governo não tomar nenhuma medida para combater o poder dos narcotraficantes.

Ribeiro é repórter também do jornal Estado de Minas e trabalhou para a revista Isto É. Ele se tornou conhecido por seu trabalho sério e corajoso de denúncia sobre lavagem de dinheiro, narcotráfico e crimes do colarinho branco. Segundo descrição do jornal Correio Braziliense, o bar em que o jornalista estava na hora do atentado se localiza no loteamento Colina Verde, uma área de casas em construção, ruas estreitas e iluminação precária, a 4km do centro da cidade. A delegada da cidade, Adriana Fernandes de Carvalho, disse ao Correio Braziliense que sabia do trabalho que Ribeiro vinha realizando e prometeu iniciar em seguida as investigações. Ainda segundo o jornal, o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o Secretário Nacional de Segurança Pública, Antônio Carlos Biscaia, pediram apoio da Polícia Federal na apuração do crime.

As denúncias sobre violência feitas pela série de reportagens publicadas no Correio Braziliense levaram as polícias do Distrito Federal e de Goiás a discutir a possibilidade de pedir a presença de uma Força Nacional de Segurança na Região do Entorno.